Parece uma caixa de charutos, mas não é. Lá dentro estão cinco CDs, um livro de 160 páginas com textos de apresentação, fotos e desenhos, uma colecção de postais “vintage” (como tudo o resto), um abridor de garrafas (convite para que se bebam umas cervejas enquanto ouvimos as 131 canções folk / country / blues compiladas) e uma folha amarrotada, escrita à máquina, com a indicação dos conteúdos de uma fita identificada como sendo a nº 25, alguns deles com datação de 1962.
È esta a homenagem da Dust-to-Digital, uma etiqueta com propósitos semelhantes aos da Revenant, à Fonotone Records, apontada como a última das editoras de discos de 78 rotações. À excepção de Blind Thomas, que não é outro senão John Fahey, e do próprio patrão da Fonotone, Joe Bussard, os nomes são-nos desconhecidos (para só citar alguns: Sunny Side Sacred Singers, Blue Ridge Partners, The Adcock Family, Bluegrass Travelers, Jolly Joe’s Jug Band, Three Blues Boys, Mississipi Swampers, Welch Brothers, The Backlanders, Possum Holler Boys, Hillbilly Boys, Tennessee Joe, Guitar Rascals, Kid Future), mas uma coisa é certa: o que aqui está acondicionado é a mais autêntica música do Sul profundo dos Estados Unidos. Contando as gravações com quase meio século (entre 40 e 45 anos, para ser mais exacto), a percepção que imediatamente temos é a de que estes são documentos de uma realidade para sempre perdida. Música popular de raiz, composta e interpretada maioritariamente por não-profissionais, ainda que alguns deles grandes virtuosos (banjos, bandolins, dobros e guitarras são tocados com uma mestria de assombrar, inclusive com técnicas que ainda hoje podemos apontar como “alternativas”, fazendo também muito mais os sopradores de garrafões do que estampar-nos um sorriso na cara), aquela que encontramos em “Fonotone Records: Frederik, Maryland” tem a particularidade de já na altura em que foi registada ser constituída por “old-time revivals”, o que faz com que a origem destes temas recue ainda umas boas décadas. Aliás, Bussard defendia posições que só precipitadamente poderíamos tomar como “reaccionárias”: “Não gosto da música comercial dos nossos dias. Toda ela soa da mesma maneira. Nos seus primeiros anos, todos os grupos de jazz e de dança eram diferentes. Nenhum soava como os outros, mas hoje quando se ouve um, ouvem-se todos.” Fahey dizia coisas muito semelhantes, e no entanto, casava a velha música rural dos “rednecks” e dos apanhadores de algodão com o mais puro experimentalismo instrumental…
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